Quem me conhece sabe que eu
tenho uma admiração muito grande pela minha família. E embora seja bem clichê
dizer isso, eu digo: foram eles quem me ensinaram e me passaram todos os
valores que eu tenho, as minhas crenças e meus ideais mais importantes, meu
amor pelas pessoas, pela vida, por Deus, minha vontade de aprender, de buscar
conhecimentos, e de crescer sempre. Tudo o que sou hoje, e todas as possibilidades
que tenho, devo aos meus familiares e amigos mais próximos, que me ensinaram
sobre tudo o que sei.
E em meio a tantos
ensinamentos e tantas experiências, existem temas que se repetem e que se
tornam ainda mais importantes para mim. Hoje quero falar sobre um deles: a bondade.
O filme “A corrente do bem”
(ou Pay it Forward) retrata isso de
uma forma bem interessante: Trevor cria uma onda de bondade ao retribuir cada
favor recebido com outros três favores – produzindo mudanças na vida de todas
as pessoas que convivem com ele e que aderem à sua ideia. Se hoje em dia parece
ser utópico pensar no Bem circulando por aí como uma corrente que liga todos
nós, a história que quero contar hoje tem exatamente o objetivo de nos mostrar mais
um elo e também, quem sabe, uma esperança.
A história que hoje conto aconteceu
há quase 40 anos, logo que meus avós maternos se mudaram para Campo Mourão e
alugaram uma casa em um grande quintal por aí. No quintal havia outras casas,
todas sem muro ou divisões, e a vida de cada um acabava se confundindo com a
vida de todos.
Na casa dos fundos, uma
mulher, o marido, e três crianças. Família feliz até o dia em que ela entra
correndo pela porta da casa dos meus avós, puxando as crianças pelo braço, com
o olho roxo e em prantos por ter apanhado do companheiro, o qual vinha atrás,
bufando de raiva e exigindo que a “amada esposa” voltasse para casa. Meus
tios, jovens e fortes, se puseram na porta, e aí o machão não teve coragem de
entrar (gente assim só enfrenta quem não pode se defender – por quê será?).
Minha avó, na cozinha, acolheu a moça, lhe deu comida, um lugar pra dormir, e
nos dias seguintes conversou muito com ela – até manda-la embora.
E a moça foi. Seguiu os “conselhos”
e aceitou os cuidados da minha avó, fez as malas e foi: foi viver a própria vida,
foi se libertar da violência e do abuso que sofria quase todos os dias. Foi.
Minha avó se ofereceu pra
cuidar da filha mais nova, uma menininha de poucos meses de vida que ainda não
tinha condições de ser carregada pela mãe sabe-se-lá-pra-onde. E a moça foi
embora, levando na mala um punhado de medos e inseguranças, mas a certeza de
que alguém estava orando e cuidando dela, mesmo a distância.
Um ano depois, a moça
voltou. Isso lá pela metade da década de 70. Voltou com a mala cheia, com um
emprego na “cidade grande”, com um lugar pra morar e um monte de
possibilidades. Pegou a filha nos braços, agradeceu, chorando, pela ajuda, e
foi embora de novo. Mas manda lembranças sempre que pode, tem o carinho de uma filha
e a gratidão de quem tudo deve e nem sabe como agradecer.
Essa semana a mulher me encontrou,
leu meus textos, viu as fotos e assistiu aos vídeos que eu fiz sobre a minha vó,
e então repartiu a sua história – história que até então eu desconhecia, e que
me emocionei muito ao saber.
Parece uma bobeira muito grande eu me encantar com tudo isso, mas não posso evitar. Quem já teve a OPORTUNIDADE de ver a vó Aldina (mesmo agora, depois do Alzheimer), sabe o quanto ela erradia carinho e afeto, o quanto ela gosta de sorrisos e de encher todo mundo com comida, conforto e abraços. Ela espera o melhor das coisas e retribui com o melhor que há nela, e assim a corrente do bem se fortifica e segue, passa adiante modificando a vida de todos.
Há 40 anos, ela salvou
alguém. E a bondade que ela me ensinou a ter me salva e me dá esperança todos os dias.