sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Corrente do bem

Quem me conhece sabe que eu tenho uma admiração muito grande pela minha família. E embora seja bem clichê dizer isso, eu digo: foram eles quem me ensinaram e me passaram todos os valores que eu tenho, as minhas crenças e meus ideais mais importantes, meu amor pelas pessoas, pela vida, por Deus, minha vontade de aprender, de buscar conhecimentos, e de crescer sempre. Tudo o que sou hoje, e todas as possibilidades que tenho, devo aos meus familiares e amigos mais próximos, que me ensinaram sobre tudo o que sei.
E em meio a tantos ensinamentos e tantas experiências, existem temas que se repetem e que se tornam ainda mais importantes para mim. Hoje quero falar sobre um deles: a bondade.
O filme “A corrente do bem” (ou Pay it Forward) retrata isso de uma forma bem interessante: Trevor cria uma onda de bondade ao retribuir cada favor recebido com outros três favores – produzindo mudanças na vida de todas as pessoas que convivem com ele e que aderem à sua ideia. Se hoje em dia parece ser utópico pensar no Bem circulando por aí como uma corrente que liga todos nós, a história que quero contar hoje tem exatamente o objetivo de nos mostrar mais um elo e também, quem sabe, uma esperança.

A história que hoje conto aconteceu há quase 40 anos, logo que meus avós maternos se mudaram para Campo Mourão e alugaram uma casa em um grande quintal por aí. No quintal havia outras casas, todas sem muro ou divisões, e a vida de cada um acabava se confundindo com a vida de todos.
Na casa dos fundos, uma mulher, o marido, e três crianças. Família feliz até o dia em que ela entra correndo pela porta da casa dos meus avós, puxando as crianças pelo braço, com o olho roxo e em prantos por ter apanhado do companheiro, o qual vinha atrás, bufando de raiva e exigindo que a “amada esposa” voltasse para casa. Meus tios, jovens e fortes, se puseram na porta, e aí o machão não teve coragem de entrar (gente assim só enfrenta quem não pode se defender – por quê será?). Minha avó, na cozinha, acolheu a moça, lhe deu comida, um lugar pra dormir, e nos dias seguintes conversou muito com ela – até manda-la embora.
E a moça foi. Seguiu os “conselhos” e aceitou os cuidados da minha avó, fez as malas e foi: foi viver a própria vida, foi se libertar da violência e do abuso que sofria quase todos os dias. Foi.
Minha avó se ofereceu pra cuidar da filha mais nova, uma menininha de poucos meses de vida que ainda não tinha condições de ser carregada pela mãe sabe-se-lá-pra-onde. E a moça foi embora, levando na mala um punhado de medos e inseguranças, mas a certeza de que alguém estava orando e cuidando dela, mesmo a distância.
Um ano depois, a moça voltou. Isso lá pela metade da década de 70. Voltou com a mala cheia, com um emprego na “cidade grande”, com um lugar pra morar e um monte de possibilidades. Pegou a filha nos braços, agradeceu, chorando, pela ajuda, e foi embora de novo. Mas manda lembranças sempre que pode, tem o carinho de uma filha e a gratidão de quem tudo deve e nem sabe como agradecer.

Essa semana a mulher me encontrou, leu meus textos, viu as fotos e assistiu aos vídeos que eu fiz sobre a minha vó, e então repartiu a sua história – história que até então eu desconhecia, e que me emocionei muito ao saber.
Parece uma bobeira muito grande eu me encantar com tudo isso, mas não posso evitar. Quem já teve a OPORTUNIDADE de ver a vó Aldina (mesmo agora, depois do Alzheimer), sabe o quanto ela erradia carinho e afeto, o quanto ela gosta de sorrisos e de encher todo mundo com comida, conforto e abraços. Ela espera o melhor das coisas e retribui com o melhor que há nela, e assim a corrente do bem se fortifica e segue, passa adiante modificando a vida de todos.

Há 40 anos, ela salvou alguém. E a bondade que ela me ensinou a ter me salva e me dá esperança todos os dias.

Um comentário:

  1. Gosto das risadas da sua vovó. Ela tem um rostinho de muito amor e carinho, dá vontade de abraçar ela até não querer mais. <3 - Ju.

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