As
pesquisas científicas demonstram que o Alzheimer geralmente aparece depois de
um trauma, quando a pessoa vivencia algum período de mudança brusca e não possui
estrutura para se adaptar, e alguns problemas já existentes podem aumentar o
impacto dessa doença. No caso da vó Aldina, ficou bastante nítido para nós que
ela começou a esquecer quando quebrou o fêmur e foi obrigada a ficar alguns
dias no hospital e depois em casa, mas sem se levantar.
O
acidente aconteceu no dia 11/09/2011, quando ela acordou e foi para o banheiro
(que fica ao lado do seu quarto), mas escorregou na porta e caiu. Ela sempre
foi muito ativa. Nossa casa tem uma calçada imensa, e, desde que eu me lembro, todos os dias ela acordava cedo e
caminhava da porta até o portão várias vezes. A “caminhada” no quintal de casa
durava pelo menos meia hora, e nossos cachorros sempre a acompanhavam – todo mundo
se divertia com uma velhinha andando pelo quintal. Ela sempre teve as pernas
fortes; ia à igreja sozinha, caminhando, toda semana; ficava de pé durante
horas na frente do fogão enquanto preparava comida ou separava o “fermento de
litro” que usava para fazer o pão. Suas pernas a levaram para muitos lugares, e
sempre a trouxeram de volta em segurança. Mas não naquele dia em que, sabe-se
lá por qual motivo, ela caiu.
Minha
mãe a levou ao médico, que constatou uma lesão no fêmur e a necessidade de uma
cirurgia. Tudo correu bem, mas nos poucos dias em que ela passou de recuperação
no hospital, sua cabeça virou uma bagunça: a rotina, a comida e as pessoas eram
completamente diferentes do que ela estava acostumada. É claro que tantos anos
de exercício e cuidado não foram a toa e ela se recuperou bem rápido... Ela
tinha 89 anos, acabara de passar por uma cirurgia, e os médicos não aguentavam
mais seus pedidos para ir embora. Em menos de uma semana, ela já estava em casa
– os médicos justificaram que o ambiente familiar seria melhor para a sua
recuperação – mas como ela não podia andar ou forçar a perna, passou quase um
mês dentro do quarto. Todos enlouquecemos um pouco. Ela tentava levantar,
tentava andar, e em qualquer momento de distração, víamos ela quase fora da
cama e precisávamos segurá-la. Ela não queria parar. Nós nos revezávamos para
ficar com ela, almoçar juntos, levar comida e café durante o dia, e fazíamos o
possível para que ela não ficasse sozinha.
Foi
nessa época que a nossa rotina também mudou. Eu, meus pais e meus dois irmãos
não podíamos mais sair juntos, porque um de nós sempre precisava ficar em casa.
Como o meu quarto é ao lado do quarto da vó, e como eu estudava a noite e
passava o dia todo em casa, parte do trabalho ficou para mim: precisava me
certificar de que ela estava comendo, de que estava confortável, de que não
ficasse triste.
Ao
mesmo tempo em que isso era pesado, difícil, e muito estressante, também tinha
seus momentos divertidos. Quando não se dava conta de que estava em recuperação,
ela ria bastante e nos contava muitas histórias. Eu e ela nunca fomos próximas,
então saber tantas histórias (a maioria em primeira mão) era bastante
recompensador... eu me sentia (e ainda me sinto) bastante especial.
[continua...]
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